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sábado, novembro 2

No coração da África, grupo rebelde já deslocou 2,5 milhões de pessoas nos últimos 30 anos

1 de novembro de 2013 · Destaque
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Muitas das vítimas do LRA no Congo encontram abrigo em casas de família, em Dungu, leste do país. Frequentemente, dividem um quarto entre 10 ou 15 outras vítimas. Foto: ACNUR/M.Hofer
Muitas das vítimas do LRA no Congo encontram abrigo em casas de família, em Dungu, leste do país. Frequentemente, dividem um quarto entre 10 ou 15 outras vítimas. Foto: ACNUR/M.Hofer
Nos últimos 30 anos, o grupo rebelde Exército de Resistência do Senhor (ou LRA, do inglês Lord’s Resistency Army) causou o deslocamento forçado de 2,5 milhões de pessoas no coração da África. As ações do grupo têm sido registradas em Uganda, República Democrática do Congo (RDC), Sudão do Sul e República Centro-Africana (RCA). Atualmente, o maior número de vítimas do LRA está concentrado na província Orientale, leste do Congo, onde cerca de 320 mil pessoas ainda encontram-se deslocadas devido à violência praticada pelo grupo.
Estes números constam do relatório “Uma vida de medo e fuga”“A life of fear and flight – The Legacy of LRA Brutality in North-East Democratic Republic of the Congo” –, produzido pelo Centro de Monitoramento do Deslocamento Interno (ou IDMC, em inglês), vinculado ao Conselho Norueguês para Refugiados, em parceria com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR).
Sob o comando do líder rebelde Joseph Kony, o LRA foi formado na década de 80 em oposição ao governo de Uganda. Em pouco tempo, tornou-se conhecido pelas suas atrocidades contra civis, como o ataque a vilarejos e o sequestro de mulheres e crianças para servirem como escravas sexuais e soldados.
No início dos anos 90, os ataques ultrapassaram as fronteiras do norte do país, chegando ao Sudão. Em 2005, o LRA estabeleceu suas bases em um parque nacional do Congo e, após 2008, começou a afetar cidadãos na RCA e na região onde agora existe o Sudão do Sul.
Os primeiros deslocamentos forçados massivos ocorreram em setembro de 2008, quando começaram os ataques em grande escala do LRA. Após os massacres natalinos no mesmo ano, mais de 55 mil pessoas haviam saído de suas casas. Em 2009, o número de ataques aumentou, e o de deslocados internos triplicou. Devido à mudança constante de localidade da milícia, alguns deslocados mudaram de cidade três ou quatro vezes.
Segundo o relatório do IDMC e do ACNUR, o LRA afeta as comunidades de três maneiras diferentes: sequestros, ataques direto (envolvendo homicídios, mutilações e outras violências extremas) e causando deslocamento forçado. A população presencia membros da família e da comunidade sendo mortos das piores maneiras possíveis.
Uma moradora de Dungu, no leste do Congo, conta que foi largada à beira da morte após ser agredida brutalmente pelo LRA. “Pegaram uma faca para cortar meus lábios, mas o chefe do bando impediu. Pegaram a tesoura, e ele impediu novamente. Mas acabaram usando uma gilete para cortar meus lábios enquanto me insultavam.”
‘Pegue seu bastão. Mate esse animal’
Outro morador de Dungu que também foi forçado a se deslocar por causa do LRA afirma que a maioria dos deslocados quer voltar para casa, mas têm medo de fazê-lo até que o líder do LRA seja preso, e o grupo desmantelado.
“Primeiro, eles amarraram uma pessoa e depois me pediam para matá-la com uma grande vara de madeira. Era um menino congolês”, disse um ex-sequestrado pelo LRA que vive na cidade congolesa de Niangara. “Vi dez pessoas sendo mortas dessa maneira, meninos e meninas. Todas foram mortas por outras crianças que também haviam sido sequestradas. Eles escolhiam as vítimas aleatoriamente o nos davam a ordem: ‘Pegue seu bastão. Mate esse animal’”, conta a vítima do LRA.
De acordo com os pesquisadores responsáveis pelo relatório, o LRA usa o sequestro como ferramenta de mobilização de recursos. Além disso, a tática causa tanto trauma e medo como nos casos de uso de extrema violência. As pessoas são, principalmente, sequestradas para transportar bens saqueados ou identificar locais estratégicos tais como instalações militares e de alimentação.
As entrevistas feitas com as pessoas que sofreram com a violência do LRA demonstram que a ocorrência de problemas psicossociais. Muitos dos entrevistados fizeram constantes referências à violência e à brutalidade pela qual passaram, mencionando ainda pesadelos constantes, imagens que não conseguem esquecer e o medo que ainda os afronta.
Frases como “não existe mais silêncio em nossas mentes” ou “as imagens dos ataques se repetem sem cessar em minha mente” foram ditas frequentemente durante as entrevistas.
Estigma marca vítimas
Outra consequência da violência praticada pelo LRA é o estigma contra suas vítimas. Muitas delas são tratadas de maneira negativa em suas próprias comunidades, sendo até mesmo rejeitadas pelas famílias, assediadas ou apontadas como “filhos do LRA”.
Esses casos acontecem principalmente com mulheres que fugiram do grupo, porém grávidas. Vários habitantes das comunidades afetadas não aceitam conviver com “descendentes dos rebeldes” após terem seus familiares mortos ou sequestrados. Apesar de campanhas de organizações humanitárias, ainda há casos de ataque a essas crianças.
Uma das pessoas que se destaca na luta contra os efeitos do LRA é a irmã Angélique Namaika, feira congolesa que recentemente ganhou o Prêmio Nansen para Refugiados 2013, concedido pelo ACNUR.
A freira foi deslocada pela violência do LRA em 2009, e hoje dirige uma instituição que já ajudou a transformar a vida de mais de 2 mil mulheres e meninas que foram forçadas a deixar suas casas e sofreram abusos praticados pelo LRA.
Monique, uma das vítimas do LRA ajudadas pela Irmã Angélique. Foto: Norwegian Refugee Council/A. Ackerman
Monique, uma das vítimas do LRA ajudadas pela Irmã Angélique. Foto: Norwegian Refugee Council/A. Ackerman
Irmã Angélique percorre muitos quilômetros em sua bicicleta, por estradas esburacadas para enfrentar o desafio de auxiliar mulheres e crianças deslocadas a se tornarem autossuficientes, curarem as feridas e serem novamente aceitas por suas comunidades. Segundo a ganhadora do Prêmio Nansen, “é muito difícil imaginar o sofrimento das mulheres e meninas vítimas do LRA, pois elas guardarão as cicatrizes desta violência por toda a vida”.
Além da atenção às consequências mentais do problema, o documento aponta a pobreza subjacente e a dificuldade causada para a entrega de suprimentos e assistência humanitária. O LRA dificulta o acesso às cidades afetadas, tanto às atacadas quanto às que recebem deslocados.
(Por Marilia Nestor, de Brasilia, para o ACNUR)

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